Parte das ilhas que integram o arquipélago de Ilhabela já era habitada muito antes da chegada dos primeiros europeus ao Brasil. Pesquisas arqueológicas realizadas pelo Projeto Arqueológico de Ilhabela já identificaram no território do município 14 sítios arqueológicos pré-coloniais, ou seja, locais que foram ocupados por seres humanos antes de 1500.
Treze desses sítios – descobertos nas ilhas de São Sebastião, dos Búzios e da Vitória – são o que os especialistas denominam “acampamentos concheiros”; que foram habitados – acredita-se que desde o ano 500 antes de Cristo – por “homens pescadores coletores do litoral”, indígenas assim denominados porque não dominavam a agricultura e nem a produção de cerâmica, vivendo apenas do que encontravam na natureza, especialmente animais marinhos.
Um outro sítio arqueológico pré-colonial foi localizado na Ilha de São Sebastião, no bairro do Viana, graças à existência no local de farto material cerâmico da tradição Itararé; indicando a possibilidade de ali ter existido uma aldeia indígena do tronco lingüístico macro-jê.
Milhares de fragmentos arqueológicos já foram recolhidos e integram o acervo do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Ilhabela.
Apesar de os indígenas da família lingüística tupi-guarani terem dominado, por muitos anos, o litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, não existe qualquer comprovação arqueológica ou bibliográfica de que eles tenham estabelecido alguma aldeia nas ilhas do arquipélago de Ilhabela. Talvez isso explique porque esses indígenas denominavam a Ilha de São Sebastião como Maembipe, o que significa “local de resgate de prisioneiros e troca de mercadorias”. A escolha de um local neutro para a troca de prisioneiros e mercadorias é um antigo costume tribal vigente até hoje em alguns países da África, Ásia, Oriente Médio e até mesmo na Amazônia.
Os tupis eram profundos conhecedores da natureza e viviam guerreando entre si. Os inimigos eram mortos e comidos pela tribo, durante o chamado ritual antropofágico, no qual se acreditava que as qualidades do inimigo morto seriam transmitidas a quem comesse da sua carne.
Inúmeras palavras de origem tupi-guarani permanecem entre nós até hoje, tais como capim, goiaba, pitanga, mingau, baiacu, mandioca, biju, além de topônimos (nomes próprios de locais) ilhabelenses como Pacoíba, Baepí, Pirabura, Pirassununga, Jabaquara, Perequê, Itaquanduba, Itaguaçu, Cocaia, Guarapocaia, Piava, Piavú, Pequeá, Papagaio, Itapecerica, Sepituba, dentre outros.
Além da grande herança lingüística, os tupis exerceram uma grande influência na cultura e na alimentação do Brasil colonial, sendo que muitos desses hábitos permanecem vivos até os presentes dias na cultura caiçara.
A história colonial de Ilhabela começa quando os integrantes da primeira expedição exploradora enviada por Portugal à Terra de Santa Cruz chegaram a Maembipe em 20 de janeiro de 1502, dia consagrado, pela Igreja, a São Sebastião. Essa expedição – que rebatizou a ilha de Maembipe com o nome de São Sebastião – foi comandada por Gonçalo Coelho, era composta por três caravelas, e dela fez parte Américo Vespúcio, conhecidonavegante italiano.
Américo Vespúcio
Vespúcio escreveu mais tarde que, se realmente existisse um paraíso na Terra, este certamente estaria muito próximo a esta região, hoje denominada Litoral Norte de São Paulo.
Por diversos motivos, essa região permaneceu completamente desabitada ao longo dos primeiros 100 anos após a passagem da expedição comandada por Gonçalo Coelho.
Somente em 1608 é que viriam a se estabelecer os primeiros colonos (sesmeiros) em ambas as margens do canal do Toque-Toque (hoje canal de São Sebastião). Foram eles Diogo de Unhate e João de Abreu, burocratas portugueses oriundos da Vila do Porto de Santos.
A principal atividade exercida pelos colonos era o plantio da cana e a produção de açúcar, utilizando exclusivamente mão-de-obra escrava, na época comercializada livremente. Plantavam-se em menor escala o fumo-da-terra, o anil, o arroz, o feijão e a mandioca, que substituía o trigo.
Com a chegada de mais colonos e escravos, formou-se um povoado onde hoje se localiza o centro histórico de São Sebastião. Em 16 de março de 1636, esse povoado emancipou-se da Vila de Santos, passando a denominar-se primeiramente Vila da Ilha de São Sebastião, depois Vila de São Sebastião da Terra Firme e, finalmente, Vila de São Sebastião.
Francisco de Escobar Ortiz, que tentara, sem sucesso, estabelecer-se em outra ilha, a da Vitória do Espírito Santo, construiu os dois primeiros engenhos de açúcar da Ilha de São Sebastião, mas sua principal atividade era o comércio de escravos, trazidos de Angola em um navio de sua propriedade.
A Ilha de São Sebastião foi integrada ao território da Vila de São Sebastião e assim permaneceria até o início do século XIX.
Durante todo esse tempo, as águas do Litoral Norte foram intensamente procuradas por corsários e piratas europeus e argentinos. Qaurto dos mais famosos aventureiros dos mares que freqüentaram o Litoral Norte foram os ingleses Thomas Cavendish, Francis Drake e Anthony Knivet, e o francês Duguay-Trouin, cujas peripécias, aventuras e desventuras correram mundo e deram origem a lendas que até hoje mexem com o imaginário de muitos aventureiros e caçadores de tesouros.
Thomas Cavendish
Menos famosos, mas tão terríveis quanto Cavendish e Duguay-Trouin, foram os corsários e piratas franceses, ingleses, holandeses e argentinos; sendo que estes últimos infestaram a costa brasileira durante a Guerra da Cisplatina, em ações de corso.
Mais do que inspirar lendas, os ataques de piratas e corsários foram tantos que acabaram motivando a construção de um sistema para defesa das vilas Bela da Princesa e de São Sebastião, cuja espinha dorsal era constituída por sete fortificações erguidas nas duas margens do Canal do Toque-Toque. A principal delas foi o forte do Rabo Azedo, ao norte da Ilha de São Sebastião; e que fica próximo da fortificação da Ponta das Canas, cujas ruínas ainda permanecem em pé.
O aumento significativo da população na Ilha de São Sebastião viria a ocorrer somente na segunda metade do século XVIII, ocasião em que um pequeno povoado começou a ser formado onde hoje se localiza o centro turístico de Ilhabela. Por volta de 1785, esse povoado foi elevado à condição de capela (denominação colonial para o primeiro estágio de um povoamento), recebendo o nome de Capela de Nossa Senhora D´ajuda e Bom Sucesso.
No final do século XVIII, com o ciclo do açúcar em crise, a Ilha de São Sebastião contava com uma população espalhada por todo o seu território, estimada em três mil moradores, cujos líderes pleiteavam a emancipação do território abrangido pela ilha.
Esse movimento – que foi liderado pelo capitão Julião de Moura Negrão, pelo alferes José Garcia Veiga, pelo senhor de engenho Carlos Gomes Moreira, e outros 27 proeminentes moradores da ilha – sensibilizou o capitão-general da Capitania de São Paulo Antônio José da Franca e Horta, que, em 3 de setembro de 1805, baixou uma portaria determinando a elevação da capela à condição de vila, que passaria a chamar-se Vila Bela da Princesa.
O nome na nova vila – escolhido pelo próprio Franca e Horta – foi uma homenagem à Princesa da Beira, dona Maria Teresa Francisca de Assis Antonia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança, filha mais velha dos reis portugueses D. João VI e D. Joaquina Carlota; irmã, portanto, de D. Pedro I.
Dona Maria Teresa, a Princesa da Beira
Vila Bela da Sereníssima Princesa Nossa Senhora – como também era chamada – foi oficialmente instalada com solenidades em 23 de janeiro de 1806.
Nesse período, começava a tomar vigor em Vila Bela da Princesa um novo ciclo econômico: o do café; plantado, colhido, descaroçado, secado, torrado, ensacado e embarcado única e exclusivamente por mão-de-obra escrava. Nessa época, o comércio de escravos era realizado de forma clandestina, pois já fora proibido por autoridades internacionais. Por isso, a região de Vila Bela da Princesa voltada para o alto-mar – principalmente a Baía dos Castelhanos – era utilizada para o desembarque de escravos contrabandeados.
Após sua emancipação, Vila Bela da Princesa experimentou 80 anos de opulência e grande poder econômico, graças à agricultura e, principalmente, ao café, plantado em cerca de 30 fazendas espalhadas pelas Ilhas de São Sebastião e dos Búzios. A população rapidamente ultrapassou a casa de 10 mil habitantes. Os fazendeiros enriqueceram, o comércio era próspero e a vida cultural intensa.
Em contrapartida, essas oito décadas de plantio extensivo de café impuseram um alto índice de degradação ao meio ambiente. A produção – extensiva e sem qualquer sustentação ecológica – de açúcar e de café, além de absolutamente nada deixar capitalizado para as gerações futuras, provocou não só uma grande devastação da Mata Atlântica, como também acarretou o desaparecimento de espécies animais e vegetais de um ambiente insular único no País.
Diversos foram os motivos que inviabilizaram a cafeicultura em Ilhabela. O último deles foi a Abolição da Escravidão, em maio de 1888. Isso porque era escrava toda a mão de obra empregada na atividade.
Vila Bela da Princesa e o Litoral Norte entrariam em um longo período de estagnação econômica, que perduraria por quase 70 anos; o que permitiu que a natureza, por si própria, repusesse uma grande e significativa parte da floresta que foi devastada pela agricultura.
A partir do primeiro quarto do século XX começa a ganhar força em Vila Bela a produção de cachaça, já fabricada em 13 engenhos – ou fábricas de aguardente – instalados na Ilha de São Sebastião; sendo a maioria movida por rodas d’água. A cachaça era escoada, em pipas, principalmente para Santos, por meio de uma flotilha de grandes canoas de voga, juntamente com os excedentes agrícolas produzidos pelas roças de subsistência.
Com a crise econômica cada vez mais se aprofundando, o governo do Estado de São Paulo resolveu realizar em 1934 uma reestruturação na divisão territorial estadual, extinguindo 18 pequenos municípios cuja arrecadação não era suficiente para arcar com os gastos da própria administração, entre eles Vila Bela da Princesa, que passou à categoria de distrito e foi anexado ao município de São Sebastião.
A revolta foi grande e o governo estadual, apenas sete meses depois, viu-se obrigado a elevar Vila Bela da Princesa novamente à condição de município. Em 1º de janeiro de 1939, Vila Bela da Princesa passou a denominar-se Vilabela. Pouco mais de um ano depois, o presidente da República, Getúlio Vargas, determinou, sem maiores justificativas, que Vilabela deveria passar a chamar-se Formosa. A formalização da mudança no nome de Vilabela para Formosa veio em 4 de maio de 1940. Um movimento popular levou o governo a mudar o nome do município para Ilhabela, o que passou a vigorar em 1º de janeiro de 1945.
A partir da segunda metade da década de 1950, a produção da cachaça começou a entrar em declínio, sendo encerrada definitivamente em meados da década de 1970.
Se a região se mostrava inviável do ponto de vista econômico, o pequeno porte das roças e do plantio da cana-de-açúcar, a baixa densidade demográfica, a dificuldade de acesso e o relevo geográfico inóspito acabariam propiciando, novamente, as condições favoráveis para que a natureza providenciasse, por seus próprios meios, uma significativa recuperação do meio ambiente e da Mata Atlântica.
Com a melhoria das estradas de ligação entre São José dos Campos e Caraguatatuba, e entre esta cidade e São Sebastião, o turismo começou a ganhar importância econômica em Ilhabela e região a partir da década de 1970.
A construção de residências de veraneio, por moradores das classes média e alta do planalto paulista, também começou a ganhar impulso. A pavimentação da SP-55 – rodovia Dr. Manoel Hypóllito do Rego – na década de 1980, provocou um grande aumento na atividade da construção civil voltada para edificação de residências de veraneio e, em conseqüência, Ilhabela e as demais cidades do Litoral Norte começaram a receber um grande afluxo de migrantes oriundos de diversos Estados brasileiros. Desde a década de 1990, as cidades da região têm enfrentado o maior crescimento demográfico do Estado, o que tem provocado o crescimento urbano desordenado.
Para minimizar este problema, desde 1997 a prefeitura de Ilhabela tem realizado um rígido controle de edificações em áreas de risco e/ou de preservação permanente, o que provocou uma importante redução no crescimento desordenado em relação às demais cidades do Litoral Norte.
Parte das ilhas que integram o arquipélago de Ilhabela já era habitada muito antes da chegada dos primeiros europeus ao Brasil. Pesquisas arqueológicas realizadas pelo Projeto Arqueológico de Ilhabela já identificaram no território do município 14 sítios arqueológicos pré-coloniais, ou seja, locais que foram ocupados por seres humanos antes de 1500.
Treze desses sítios – descobertos nas ilhas de São Sebastião, dos Búzios e da Vitória – são o que os especialistas denominam “acampamentos concheiros”; que foram habitados – acredita-se que desde o ano 500 antes de Cristo – por “homens pescadores coletores do litoral”, indígenas assim denominados porque não dominavam a agricultura e nem a produção de cerâmica, vivendo apenas do que encontravam na natureza, especialmente animais marinhos.
Um outro sítio arqueológico pré-colonial foi localizado na Ilha de São Sebastião, no bairro do Viana, graças à existência no local de farto material cerâmico da tradição Itararé; indicando a possibilidade de ali ter existido uma aldeia indígena do tronco lingüístico macro-jê.
Milhares de fragmentos arqueológicos já foram recolhidos e integram o acervo do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Ilhabela.
Apesar de os indígenas da família lingüística tupi-guarani terem dominado, por muitos anos, o litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, não existe qualquer comprovação arqueológica ou bibliográfica de que eles tenham estabelecido alguma aldeia nas ilhas do arquipélago de Ilhabela. Talvez isso explique porque esses indígenas denominavam a Ilha de São Sebastião como Maembipe, o que significa “local de resgate de prisioneiros e troca de mercadorias”. A escolha de um local neutro para a troca de prisioneiros e mercadorias é um antigo costume tribal vigente até hoje em alguns países da África, Ásia, Oriente Médio e até mesmo na Amazônia.
Os tupis eram profundos conhecedores da natureza e viviam guerreando entre si. Os inimigos eram mortos e comidos pela tribo, durante o chamado ritual antropofágico, no qual se acreditava que as qualidades do inimigo morto seriam transmitidas a quem comesse da sua carne.
Inúmeras palavras de origem tupi-guarani permanecem entre nós até hoje, tais como capim, goiaba, pitanga, mingau, baiacu, mandioca, biju, além de topônimos (nomes próprios de locais) ilhabelenses como Pacoíba, Baepí, Pirabura, Pirassununga, Jabaquara, Perequê, Itaquanduba, Itaguaçu, Cocaia, Guarapocaia, Piava, Piavú, Pequeá, Papagaio, Itapecerica, Sepituba, dentre outros.
Além da grande herança lingüística, os tupis exerceram uma grande influência na cultura e na alimentação do Brasil colonial, sendo que muitos desses hábitos permanecem vivos até os presentes dias na cultura caiçara.
A história colonial de Ilhabela começa quando os integrantes da primeira expedição exploradora enviada por Portugal à Terra de Santa Cruz chegaram a Maembipe em 20 de janeiro de 1502, dia consagrado, pela Igreja, a São Sebastião. Essa expedição – que rebatizou a ilha de Maembipe com o nome de São Sebastião – foi comandada por Gonçalo Coelho, era composta por três caravelas, e dela fez parte Américo Vespúcio, conhecidonavegante italiano.
Américo Vespúcio
Vespúcio escreveu mais tarde que, se realmente existisse um paraíso na Terra, este certamente estaria muito próximo a esta região, hoje denominada Litoral Norte de São Paulo.
Por diversos motivos, essa região permaneceu completamente desabitada ao longo dos primeiros 100 anos após a passagem da expedição comandada por Gonçalo Coelho.
Somente em 1608 é que viriam a se estabelecer os primeiros colonos (sesmeiros) em ambas as margens do canal do Toque-Toque (hoje canal de São Sebastião). Foram eles Diogo de Unhate e João de Abreu, burocratas portugueses oriundos da Vila do Porto de Santos.
A principal atividade exercida pelos colonos era o plantio da cana e a produção de açúcar, utilizando exclusivamente mão-de-obra escrava, na época comercializada livremente. Plantavam-se em menor escala o fumo-da-terra, o anil, o arroz, o feijão e a mandioca, que substituía o trigo.
Com a chegada de mais colonos e escravos, formou-se um povoado onde hoje se localiza o centro histórico de São Sebastião. Em 16 de março de 1636, esse povoado emancipou-se da Vila de Santos, passando a denominar-se primeiramente Vila da Ilha de São Sebastião, depois Vila de São Sebastião da Terra Firme e, finalmente, Vila de São Sebastião.
Francisco de Escobar Ortiz, que tentara, sem sucesso, estabelecer-se em outra ilha, a da Vitória do Espírito Santo, construiu os dois primeiros engenhos de açúcar da Ilha de São Sebastião, mas sua principal atividade era o comércio de escravos, trazidos de Angola em um navio de sua propriedade.
A Ilha de São Sebastião foi integrada ao território da Vila de São Sebastião e assim permaneceria até o início do século XIX.
Durante todo esse tempo, as águas do Litoral Norte foram intensamente procuradas por corsários e piratas europeus e argentinos. Qaurto dos mais famosos aventureiros dos mares que freqüentaram o Litoral Norte foram os ingleses Thomas Cavendish, Francis Drake e Anthony Knivet, e o francês Duguay-Trouin, cujas peripécias, aventuras e desventuras correram mundo e deram origem a lendas que até hoje mexem com o imaginário de muitos aventureiros e caçadores de tesouros.
Thomas Cavendish
Menos famosos, mas tão terríveis quanto Cavendish e Duguay-Trouin, foram os corsários e piratas franceses, ingleses, holandeses e argentinos; sendo que estes últimos infestaram a costa brasileira durante a Guerra da Cisplatina, em ações de corso.
Mais do que inspirar lendas, os ataques de piratas e corsários foram tantos que acabaram motivando a construção de um sistema para defesa das vilas Bela da Princesa e de São Sebastião, cuja espinha dorsal era constituída por sete fortificações erguidas nas duas margens do Canal do Toque-Toque. A principal delas foi o forte do Rabo Azedo, ao norte da Ilha de São Sebastião; e que fica próximo da fortificação da Ponta das Canas, cujas ruínas ainda permanecem em pé.
O aumento significativo da população na Ilha de São Sebastião viria a ocorrer somente na segunda metade do século XVIII, ocasião em que um pequeno povoado começou a ser formado onde hoje se localiza o centro turístico de Ilhabela. Por volta de 1785, esse povoado foi elevado à condição de capela (denominação colonial para o primeiro estágio de um povoamento), recebendo o nome de Capela de Nossa Senhora D´ajuda e Bom Sucesso.
No final do século XVIII, com o ciclo do açúcar em crise, a Ilha de São Sebastião contava com uma população espalhada por todo o seu território, estimada em três mil moradores, cujos líderes pleiteavam a emancipação do território abrangido pela ilha.
Esse movimento – que foi liderado pelo capitão Julião de Moura Negrão, pelo alferes José Garcia Veiga, pelo senhor de engenho Carlos Gomes Moreira, e outros 27 proeminentes moradores da ilha – sensibilizou o capitão-general da Capitania de São Paulo Antônio José da Franca e Horta, que, em 3 de setembro de 1805, baixou uma portaria determinando a elevação da capela à condição de vila, que passaria a chamar-se Vila Bela da Princesa.
O nome na nova vila – escolhido pelo próprio Franca e Horta – foi uma homenagem à Princesa da Beira, dona Maria Teresa Francisca de Assis Antonia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança, filha mais velha dos reis portugueses D. João VI e D. Joaquina Carlota; irmã, portanto, de D. Pedro I.
Dona Maria Teresa, a Princesa da Beira
Vila Bela da Sereníssima Princesa Nossa Senhora – como também era chamada – foi oficialmente instalada com solenidades em 23 de janeiro de 1806.
Nesse período, começava a tomar vigor em Vila Bela da Princesa um novo ciclo econômico: o do café; plantado, colhido, descaroçado, secado, torrado, ensacado e embarcado única e exclusivamente por mão-de-obra escrava. Nessa época, o comércio de escravos era realizado de forma clandestina, pois já fora proibido por autoridades internacionais. Por isso, a região de Vila Bela da Princesa voltada para o alto-mar – principalmente a Baía dos Castelhanos – era utilizada para o desembarque de escravos contrabandeados.
Após sua emancipação, Vila Bela da Princesa experimentou 80 anos de opulência e grande poder econômico, graças à agricultura e, principalmente, ao café, plantado em cerca de 30 fazendas espalhadas pelas Ilhas de São Sebastião e dos Búzios. A população rapidamente ultrapassou a casa de 10 mil habitantes. Os fazendeiros enriqueceram, o comércio era próspero e a vida cultural intensa.
Em contrapartida, essas oito décadas de plantio extensivo de café impuseram um alto índice de degradação ao meio ambiente. A produção – extensiva e sem qualquer sustentação ecológica – de açúcar e de café, além de absolutamente nada deixar capitalizado para as gerações futuras, provocou não só uma grande devastação da Mata Atlântica, como também acarretou o desaparecimento de espécies animais e vegetais de um ambiente insular único no País.
Diversos foram os motivos que inviabilizaram a cafeicultura em Ilhabela. O último deles foi a Abolição da Escravidão, em maio de 1888. Isso porque era escrava toda a mão de obra empregada na atividade.
Vila Bela da Princesa e o Litoral Norte entrariam em um longo período de estagnação econômica, que perduraria por quase 70 anos; o que permitiu que a natureza, por si própria, repusesse uma grande e significativa parte da floresta que foi devastada pela agricultura.
A partir do primeiro quarto do século XX começa a ganhar força em Vila Bela a produção de cachaça, já fabricada em 13 engenhos – ou fábricas de aguardente – instalados na Ilha de São Sebastião; sendo a maioria movida por rodas d’água. A cachaça era escoada, em pipas, principalmente para Santos, por meio de uma flotilha de grandes canoas de voga, juntamente com os excedentes agrícolas produzidos pelas roças de subsistência.
Com a crise econômica cada vez mais se aprofundando, o governo do Estado de São Paulo resolveu realizar em 1934 uma reestruturação na divisão territorial estadual, extinguindo 18 pequenos municípios cuja arrecadação não era suficiente para arcar com os gastos da própria administração, entre eles Vila Bela da Princesa, que passou à categoria de distrito e foi anexado ao município de São Sebastião.
A revolta foi grande e o governo estadual, apenas sete meses depois, viu-se obrigado a elevar Vila Bela da Princesa novamente à condição de município. Em 1º de janeiro de 1939, Vila Bela da Princesa passou a denominar-se Vilabela. Pouco mais de um ano depois, o presidente da República, Getúlio Vargas, determinou, sem maiores justificativas, que Vilabela deveria passar a chamar-se Formosa. A formalização da mudança no nome de Vilabela para Formosa veio em 4 de maio de 1940. Um movimento popular levou o governo a mudar o nome do município para Ilhabela, o que passou a vigorar em 1º de janeiro de 1945.
A partir da segunda metade da década de 1950, a produção da cachaça começou a entrar em declínio, sendo encerrada definitivamente em meados da década de 1970.
Se a região se mostrava inviável do ponto de vista econômico, o pequeno porte das roças e do plantio da cana-de-açúcar, a baixa densidade demográfica, a dificuldade de acesso e o relevo geográfico inóspito acabariam propiciando, novamente, as condições favoráveis para que a natureza providenciasse, por seus próprios meios, uma significativa recuperação do meio ambiente e da Mata Atlântica.
Com a melhoria das estradas de ligação entre São José dos Campos e Caraguatatuba, e entre esta cidade e São Sebastião, o turismo começou a ganhar importância econômica em Ilhabela e região a partir da década de 1970.
A construção de residências de veraneio, por moradores das classes média e alta do planalto paulista, também começou a ganhar impulso. A pavimentação da SP-55 – rodovia Dr. Manoel Hypóllito do Rego – na década de 1980, provocou um grande aumento na atividade da construção civil voltada para edificação de residências de veraneio e, em conseqüência, Ilhabela e as demais cidades do Litoral Norte começaram a receber um grande afluxo de migrantes oriundos de diversos Estados brasileiros. Desde a década de 1990, as cidades da região têm enfrentado o maior crescimento demográfico do Estado, o que tem provocado o crescimento urbano desordenado.
Para minimizar este problema, desde 1997 a prefeitura de Ilhabela tem realizado um rígido controle de edificações em áreas de risco e/ou de preservação permanente, o que provocou uma importante redução no crescimento desordenado em relação às demais cidades do Litoral Norte.