sábado, 11 de dezembro de 2010

Poesia caipira

Poesia caipira Vô contá como é triste, vê a veíce chegá, vê os cabêlo cainu, vê as vista encurtá. Vê as pernas trumbicano, com preguiça de andá. Vê 'aquilo' esmorecendo, sem força pra levantá. As carne vão suminu, vai parecêno as vêia. As vista diminuindo e cresceno a sobrancêia. As oiça vão incurtano, vão aumentano as orêias. Os ôvo dipindurano e diminuino a pêia. A veíce é uma doença que dá em todo cristão: doi os braço, doi as perna, doi os dedo, doi as mão. Dói figo e barriga, dói o rim e o pulmão. Dói o fim do espinhaço, dói a corda do cunhão. Quando a gente fica véio, tudo no mundo acontece: vai passano pelas ruas e as menina se oferece. A gente óia tudo, benza a Deus e agradece, correno pra casa, procurano o INSS. No tempo que eu era moço, o sol pra mim briava. Eu tinha mil namorada, tudo de bão me sobrava. As menina mais bonita da cidade, eu bolinava. Eu fazia todo dia, chega o bichim desbotava. Mas tudo isso passô, faz tempo ficô prá tráis, as coisas que eu fazia, hoje num sô capaiz. O tempo me robô tudo, de uma maneira sagaiz. Prá falar memo a verdade, nem trepá eu trepo mais. Quando chega os setenta, tudo no mundo embaraça. Pega muié, vai prá cama, aparpa, beija e abraça, porém só faz duas coisas: sorta peido e acha graça!